Saudades deste dia Barcarena. eu Elo,Ierecê e Ironi.
Em 2007 aconteceu o congresso nacional da RCC na Canção Nova, participei com meu grupo de oração, fomos com uma caravana, eu fui a este congresso desafiando o Senhor; se Ele não me desse uma resposta concreta para minhas inquietações de estar na missão, eu deixaria tudo, grupo oração, pregação, tudo o que era serviço da igreja, pois estava cansada.
Lá estava eu ouvindo todas as pregações. Dom Azcona, iniciou sua pregação, meu coração incendiou cada palavra que ele proferia meu coração se convencia que o Marajó era meu lugar. Não estava enganada, 10 meses depois eu estava sendo enviada pela minha paróquia e minha diocese a missa foi simples mas linda Dom Laurindo fez meu envio. No mês de maio estava eu aqui aqui nesta terra cheia de dificuldades, tribulações, misérias, injustiças, mas cheia de filhos de Deus esperando para serem orientados, conduzidos e acima de tudo para serem amados.
Está fazendo um ano que estou no Marajó, se eu disser que tudo foi maravilhoso não estaria sendo verdadeira. Muitos momentos foram de deserto, solidão, saudades, sofrimento e lágrimas, passamos por muitas dificuldades, mas nada foi maior do que a alegria de estar cumprindo o mandato do Senhor.
Uma das experiências mais bonitas desta missão foi com os Ribeirinhos, estar com eles foi ter uma lição de fé, a cada historia ouvida, a cada ação presenciada.
Rio Aranai, almoço bom!!
Comunidade Cristo Rei, Rio Aranai.
Como RCC que aqui somos e fomos enviados atuamos em todas as pastorais e obras sócias com a identidade da rcc, exercitando os dons e carismas onde quer que somos chamados.No grupo de oração iniciamos praticamente do nada poucas pessoas sabiam o que era rcc, fizemos oficinas de dons, formação para servos, implantamos o núcleo, formação para pregadores, musica, intercessão, retiro para jovens Carnaval com Cristo,hoje estamos abrindo três novos grupos de oração. A realidade desse povo de Breves levou-me a viver momentos duros, que me fizeram dar passos na conversão a cada situação vivida. Foi experimentar no dia-a-dia ficar abraçada ao crucificado, me sentir amparada por Maria e sustentada pelo Pentecostes diário.
A realidade que muitas vezes me chocou e ainda choca só foi e é possível enfrentar com a força da Eucaristia diária, com Jesus sacramentado em nossa casa. Receber Jesus Eucarístico é ter a certeza que Ele esta em mim, me faz olhar com os Seus olhos, amar com Seu coração, me faz crer e experimentar que a Sua palavra se cumpre quando diz: “Recebereis o Espírito Santo e sereis minhas testemunhas..”. Sem a experiência do Pentecostes, sem a força e o direcionamento do Espírito Santo, seria impossível permanecer aqui. Em todos os momentos que desanimei e quis desistir o Espírito Santo me recordava que: não era eu que tinha escolhido estar aqui, mas o Senhor me escolheu e me enviou, e que eu deveria cumprir Seu mandato: “Ide e evangelizai a todos os povos”.
Creio que não só para mim, mas também para Beto e Elo, a menina dos olhos desta missão se chama comunidade São José Operário porque vimos ela nascer dar os primeiros passos em tudo o que uma comunidade precisa.
Visitando as famílias vendo as condições de sobrevivência me fazia amar, respeitar e lutar por elas, no inicio um sentimento de fracasso. O que poderia eu fazer? Diante de tanta miséria, fome, falta de água de higiene, enfim ali estavam muitas famílias vivendo num submundo. Muitas vezes durante o dia estava com eles e a noite chorava por não saber o que fazer, por onde começar, não tinha dinheiro para matar a fome deles nem para comprar remédio, para procurar um médico, mesmo porque médico aqui é uma raridade. Eram tantas as necessidades urgentes de cada família, que me sentia um nada, e em muitos momentos pensei em desistir, mais uma vez o Espírito Santo me recordava que semear a cultura de Pentecostes era necessário.
Era e é minha missão como RCC, pois foi esta experiência de Pentecostes que me impulsionou a estar aqui.
Depois de conhecer um pouco desta realidade iniciamos as celebrações da palavra e as missas todos os domingos nesta comunidade, no inicio celebrávamos com no máximo 10 pessoas num pequeno barraco, mas em pouco tempo estava pequeno demais para tanta gente.
Então com a permissão dos freis, construímos uma maloca coberta de palha que comportava umas 100 pessoas.
Convivendo com a comunidade observando a dificuldade financeira que cada família estava passando por conta do desemprego em massa, tudo isso fazia minha cabeça fervilhar de ideias para poder ajudar na geração de renda principalmente as mulheres e adolescentes.
As Mulheres ,porque eu ficava imaginando que dor elas deviam sentir por não ter o que dar aos seus filhos quando estavam com fome, a situação é tão grave que algumas mães perderam seus filhos que morreram desnutridos.
As meninas adolescentes o caminho mais fácil era prostituir seu corpo em troca de centavos ou por um litro de óleo (e isso ainda acontece). Meu coração se inquietava. O que fazer? Meninas dos cartões
O sopro do ESPÍRITO SANTO chegou aos meus ouvidos e ao coração. Tenho alguns dons que o próprio Senhor me deu no campo do artesanato, então era tudo o que eu tinha a oferecer na área social, mas não tinha recursos para iniciar as oficinas. Mais uma vez Deus foi providência através da minha família, meu grupo de oração, minha paróquia São José Operário de Céu Azul, eles me mandavam uma ajuda financeira, e comecei a comprar o material para iniciar a confecção dos cartões, e assim iniciamos a oficina de cartões. Foi uma experiência marcante ver a alegria das crianças e mulheres confeccionarem os cartões com tanta habilidade.
Muitas vezes tinha mais de 50 pessoas na oficina, não é só o trabalho em si que realizamos, mas sempre iniciamos com uma oração, e nas conversas durante as oficinas posso conhecer melhor as dores, a cultura, o sonho destas criaturas. Muitas mulheres nem sabiam rezar e hoje acompanham as orações.
No final de 2008 confeccionamos mais de 1.500 cartões que foram vendidos aos nossos irmãos da RCC do Brasil todo e até para a Espanha. Foi muito gratificante saber que todos gostaram do trabalho artesanal recebemos muitos elogios. Meu coração se alegrava por ver que os talentos estavam sendo desenterrados, via um brilho de esperança no olhar de muitas mulheres e adolescentes, então comecei a sonhar mais com esta oficina e com outras.
Graças a Deus e mais uma vez com a ajuda da minha paróquia e RCC iniciei mais três oficinas; pintura em tecido trabalho com meia de seda confeccionando imãs de geladeira, e trabalho de cestaria confeccionadas com jornal. Hoje mais de 50 mulheres, meninos e meninas adolescentes participam das oficinas, é uma bênção para nós e para a comunidade.
Hoje já posso contar com algumas meninas e mulheres para me auxiliar nas oficinas, de aprendizes a monitoras, é a grande recompensa, pois nosso trabalho é formar formadores.
Deus realmente é fiel, e realiza quando deixamos Ele agir em qualquer situação, hoje a oficina de cartões passou a ser uma oficina de produção com a vinda do Zolim aqui para Breves, ele abriu as portas e iniciamos uma produção de 1000 cartões por mês.
Temos um projeto que está em fase de execução de fabricar terços de semente de açaí, com certeza também será uma oficina de produção que vai gerar renda para outras famílias.
O que posso dizer é que a mão de Deus tem sido visível aos nossos olhos, Ele com certeza têm um amor especial para com esta comunidade, aos olhos humanos seria impossível dentro de tão pouco tempo uma comunidade tão pobre crescer tanto em todos os sentidos, do pequeno barraco que iniciamos as celebrações passamos para uma maloca um pouco maior e hoje estamos com uma capela ampla e linda, construída pela providência divina.
Mesmo com a construção da capela nos limitando o espaço físico, temos muitas atividades sendo desenvolvidas durante toda a semana. A catequese para crianças e adultos, liturgia, terço, quatro oficinas artesanais, alfabetização, aulas de reforço, formação para voluntários, coroinhas, preparação para os sacramentos como Batismo, Eucaristia e matrimonio, com casamento comunitário.
Enfim a comunidade cresce a cada dia, é viva, celebra com alegria, não entendem muito de liturgia, mas é um povo que nos ensina na fé. É um povo simples sem muita cultura, e creio que é por serem tão simples que Deus tem se manifestado tão nitidamente. Às vezes olho para aquele povo e vejo a ação do Espírito Santo tão forte que realmente se experimenta a alegria do Senhor.
O que posso dizer deste povo? Que amo, amo, amo e tenho a graça de ver nitidamente o rosto sofrido de Jesus em cada um desses irmãos.
Tenho consciência que pouco fiz durante este tempo, mas sei o quanto o Senhor fez em mim. E o quanto Ele me usou como canal de graça para meus irmãos marajoaras. Hoje olhando para trás vejo as maravilhas que o Senhor realizou através desta Missão Marajó, e posso dizer com toda convicção da minha alma, a RCC esteve com os braços levantados, com os joelhos no chão, com ouvido no coração do Senhor para ouvir o que Ele desejava. Aqui está a resposta do Senhor, Ele desejou iniciar esta missão na Ilha do Marajó que com certeza não se limitará somente ao Marajó, mas atingirá toda a Amazônia.
Em meu coração hoje á uma certeza, faria tudo novamente para estar no Marajó, não hesitaria por nem um momento cantar aquela canção que aqui na missão muitas vezes nos momentos difíceis cantamos um para o outro para lembrar que nosso sim foi serio. Então cantamos aonde mandar eu irei... ou ainda... leva-me aonde os homens necessitem tuas palavras.. e aqui continuo pelo menos mais um ano.
A Deus toda honra toda gloria e poder! Hoje nesta base missionaria da missão Marajó aqui de Breves somos seis missionarios.
"Faz-me fiel, precioso Jesus, faz-me fiel".